O Horizonte dos Eventos
“Mesmo ignorando como o mundo teve origem, só de observar os movimentos do céu e muitas outras coisas, posso ter certeza de que o mundo não foi criado para nós por uma vontade divina: tantos são os males que contém.”
Lucrécio (séc 1 A.C), De rerum natura (Sobre a natureza das coisas), V 195-99.
Lucrécio (séc 1 A.C), De rerum natura (Sobre a natureza das coisas), V 195-99.
O HORIZONTE DOS EVENTOS
O Horizonte de Eventos é uma fronteira imaginária ao redor de um buraco negro a
partir da qual a força da gravidade é tão forte que nem a própria luz pode
escapar de um buraco negro pois sua velocidade é inferior a velocidade de escape
do buraco negro , e onde há um paradoxo físico quando as leis da nossa física
não podem ser aplicadas pois resultam absurdos matemáticos.
"Numa manhã de novembro, alguns anos atrás, eu estava sobrevoando a Ásia central soviética. Olhava para o deserto imenso que confina a leste com o mar de Aral, esbranquiçado e inerte, e pensava em L'aquilone*, o filme que rodaria na primavera naquela região. Uma fábula, um mundo que nunca foi o meu, por isso me atraía. E eis que, enquanto me entrego a essa fábula e a observo aderir-se docilmente a paisagem sob mim, sinto-me escorregar para pensamentos distantes. É sempre assim. Todas as vezes que estou prestes a começar um filme, me vem à idéia de outro.
Esse outro nasce de uma viagem num pequeno avião em um dia tempestuoso na Itália. Nuvens imensas, chuva, vento. Um vento duro e constante, cinzento como às nuvens. Do lado de fora da janela as nuvens passam velozes. O avião sofre vibrações secas e empenadas e deslocamentos repentinos. Até ao perigo a gente se acostuma, com um pouco de paciência. Quase de súbito as nuvens param, temos a sensação de que o avião vai cair. Mas não, ele é atirado para o alto onde acabou de estrondar um raio. Antes a intensidade do cinza era determinada pela espessura das nuvens, agora pelos relâmpagos amarelos que as dilaceram.
Atravessamos cinco temporais. Na chegada fico sabendo que durante o quarto, outro avião de turismo caiu. Nenhum sobrevivente. Trazia a bordo seis passageiros e o piloto... "
E assim seria mais um filme de Michelangelo Antonioni, na minha opinião, a maior obra-prima que o cinema viria a ter. Por destino, a sétima arte ficou órfã desse projeto que misturaria filosofia, ação, mistério e ciência. Seria uma conexão de 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), que Antonioni era fã, com a filmografia humanista do cineasta italiano.
Tudo que restou dessa maravilha foram rascunhos onde ele discorre sobre a vida dos passageiros daquele fatídico vôo. Um rico casal de industriais, um escritor, a sua amante, um ex-deputado, uma mulher de meia-idade, e o piloto. Antonioni traça o perfil deles e conta porque estavam reunidos ali.
Após o acidente a trama se concentra num modesto cabo do exército que não sabe o que fazer com o resto da aeronave que se espatifara no morro, enquanto isso um padre, um grupo de curiosos e jornalistas passam pelo local e são destronados pelo diretor.
No final apoteótico, Antonioni parece ninar narrando para nós como se fosse uma aula de astronomia.
Esse outro nasce de uma viagem num pequeno avião em um dia tempestuoso na Itália. Nuvens imensas, chuva, vento. Um vento duro e constante, cinzento como às nuvens. Do lado de fora da janela as nuvens passam velozes. O avião sofre vibrações secas e empenadas e deslocamentos repentinos. Até ao perigo a gente se acostuma, com um pouco de paciência. Quase de súbito as nuvens param, temos a sensação de que o avião vai cair. Mas não, ele é atirado para o alto onde acabou de estrondar um raio. Antes a intensidade do cinza era determinada pela espessura das nuvens, agora pelos relâmpagos amarelos que as dilaceram.
Atravessamos cinco temporais. Na chegada fico sabendo que durante o quarto, outro avião de turismo caiu. Nenhum sobrevivente. Trazia a bordo seis passageiros e o piloto... "
E assim seria mais um filme de Michelangelo Antonioni, na minha opinião, a maior obra-prima que o cinema viria a ter. Por destino, a sétima arte ficou órfã desse projeto que misturaria filosofia, ação, mistério e ciência. Seria uma conexão de 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), que Antonioni era fã, com a filmografia humanista do cineasta italiano.
Tudo que restou dessa maravilha foram rascunhos onde ele discorre sobre a vida dos passageiros daquele fatídico vôo. Um rico casal de industriais, um escritor, a sua amante, um ex-deputado, uma mulher de meia-idade, e o piloto. Antonioni traça o perfil deles e conta porque estavam reunidos ali.
Após o acidente a trama se concentra num modesto cabo do exército que não sabe o que fazer com o resto da aeronave que se espatifara no morro, enquanto isso um padre, um grupo de curiosos e jornalistas passam pelo local e são destronados pelo diretor.
No final apoteótico, Antonioni parece ninar narrando para nós como se fosse uma aula de astronomia.
* Projeto inacabado.
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