Vício Frenético

Bad Lieutenant: Porto of Call New Orleans – Werner Herzog – 2009 (Cinemas)

Não vou assistir Avatar. É a minha decisão. A menos que apareça uma cópia pirata em minhas mãos, emprestada obviamente, não verei a maior bilheteria da humanidade e um filme que mudará a estética do cinema. Apesar de tudo isso, e das informações maravilhosas de pessoas que respeito me dizem, minha decisão é que não vou colaborar com 1 centavo, nada, para fazer desse filme o que ele já é.

Avatar não é cinema. Custou 300 milhões de dólares. E teve o retorno dessa quantia em 2 semanas de exibição.

Falam que Avatar tem um apelo mais do que bem vindo de ecologia. Ora, se ele é um dos filmes mais caros já produzido, como pode ser ecologicamente correto? Façam o que falo, mas não façam o que faço?

Comecei a falar de Avatar para justificar minha ida aos cinemas para ver Vício Frenético. Sim, se trata de uma refilmagem, apesar do diretor querer bater em quem diz isso – declara que a questão do nome foi coisa de produtores – e traz Nicolas Cage como protagonista, um ator que daria o braço esquerdo para estar em projetos como Avatar.Porém, Vício Frenético não quer, somente, arrancar seu dinheiro. É um filme de personalidade, é um filme que se arrisca – cerca de 40% do filme são com imagens de baixa qualidade – é um filme que retrata bem a personalidade do ser humano, é um filme humanista. Afora o jazz. E a primeira cena já traduz isso de forma espetacular.

New Orleans arrasada pelas conseqüências do furacão Katrina. Numa delegacia, dois detetives, Terence McDonagh (Cage – mediano, que é um elogio maravilhoso para ele) e Stevie Pruit (Val Kilmer) vão procurar provas contra um colega, e acabam encontrando um preso quase morrendo afogado. Os dois riem da situação do detento, que pede desesperado por ajuda. Terence é o mais sarcástico, diz que está usando uma cueca suíça caríssima, Stevie demora para entrar no jogo, mas agora parece adorar. O desespero do preso vai aumentando, em conseqüência as risadas dos policiais. Os dois vão se encaminhando para abandonar o local, quando Terence, numa ação frenética passa a se despir do paletó e dos sapatos e pula na água para salvar o detento.

A próxima cena é ainda melhor. Terence está no médico que lhe recomenda drogas para cuidar das dores nas costas, que serão permanentes em sua vida agora. E por isso, o detetive vai receber a condecoração de tenente (o mau tenente do título original). Conseqüentemente o roteiro nos coloca uma pulga atrás da orelha, será que o pulo na água foi o resultado do problema na coluna?

E a próxima cena então...

Comentários

Pedro Tavares disse…
O jacaré, a alma dançando, o lagarto, a repreensão do casal.

Herzog é rei.

Pedro Tavares

http://www.cinemaorama.com
Anônimo disse…
Não acredito que você não verá "Avatar", mas entendo tua decisão! E, finalmente, parece que temos um filme do Nicolas Cage que presta, hein??
Reinaldo Glioche disse…
E ás próximas cenas apagam a boa impressão.
nanda disse…
Acabei de assitir Vício Frenético e concordo com você: filmão, do tipo que perdura... Salve, salve a perturbação incurável de Hergov!
Agora, quanto à Avatar, considere que o empréstimo da cópia pirata já rolou! Deixa só eu voltar para Ssa:)
Ramon disse…
Bom, vamos lá: primeiramente gostaria de dizer que achei que o Nicolas Cage dá respirada depois desse filme. Sua atuação é decente, e isso é um mérito. Mas não é por isso que ele respira, e sim pela escolha de participar desse projeto. Tem bem a cara dele.
Herzog está bem, também. Contudo, não acho que a obra seja nada espetacular. Ele é, sim, autoral. E isso é louvável hoje em dia.

Agora o principal: gostei! Também estou nessa situação com AVATAR.
Na verdade quase fui aos cinemas. Aí a preguiça e a visualização daqueles seres azuis não me deu muito estímulo. Acho horrível que um filme como esse tenha tudo para ganhar o Oscar e concordo com tudo que disseste. Inclusive sobre a possibilidade de assistir a película. A minha condição é a mesma que a sua.

Abs!
Anônimo disse…
Maior acerto do Herzog em décadas, grande filme, dos melhores do ano.

Mas o do Ferrara ainda o põe no chinelo, hehe.
Unknown disse…
“Vício frenético”

O original, de 1992, é um dos pesadelos tresloucados que fizeram os momentos altos da trajetória do junkie Abel Ferrara, com Harvey Keitel corajosamente exposto no papel do policial viciado que afunda durante uma investigação.
A refilmagem de Werner Herzog é típica encomenda de estúdio, na qual o diretor recebeu funções apenas burocráticas, aclimatando-se nos EUA, onde passou a residir há pouco. Mas o alemão adicionou humor ao clima sombrio e desesperado de Ferrara, além de transportar a ação para a Nova Orleans pós-Katrina. Nicolas Cage imprime cinismo e simpatia a seu personagem, reforçando uma crítica às instituições policiais que a tragédia pessoal diluía.
Não se trata, portanto, dessas nefastas refilmagens hollywoodianas, originadas no esgotamento criativo e na falta de escrúpulos. É outro filme, embora partindo das mesmas premissas. E Herzog, um dos maiores cineastas vivos, como já disse aqui, mesmo quando se dedica a garantir o leitinho das crianças, está quilômetros acima do padrão mediano dessa indústria movida a reciclagens.
Fabio Rockenbach disse…
A decisão de ver ou não ver um filme é de cada um, bem como de falar ou não sobre ele - apenas falo porque em jornalismo, falar sobre o que não se sabe é tiro no pé, e já coloca a pessoa em uma posição: dificilmente, no dia em que você assistir, vai dizer que gostou (se gostar). A credibilidade vai pras cucuias. É uma arapuca, mas você se colocou nela conscientemente pelo menos.
E Avatar é cinema sim, conheço muita gente que gosta de culpar alguns filmes por fazerem sucesso. Na verdade, culpam mais os departamentos de marketing e o gosto do público do que o filme em si, por consequência. Já vi isso com Senhor dos Anéis e Titanic.

Anyway...


Vívio Frenético, por sinal, é ótimo. Há pelo menos três cenas que eu me peguei perdido em um longo movimento de câmera sem cortes acompanhando Cage, como quando ele invade uma casa pelo vizinho, parando para roubar um pacote de maconha no caminho, onde o virtuosismo de Herzog está longe de ser gratuito. É um filme de estúdio, mas que consegue contrabandear um espírito autoral que inevitavelmente surge em um filme assinado alguém como ele - e o cara sempre narrou pequenas ou grandes tragédias particulares e loucuras em seus maiores filmes, vide Aguirre, Fitzcarralado e Nosferatu. Não foge muito á regra, apesar de não se comparar a esses três. Um dos melhores do ano até agora - claro que a amostragem de 2010 até agora é bem pequena.

Mas deu vontade de rever o Ferrara para balançar idéias...

PS: A frase "será que o pulo na água foi o resultado do problema na coluna?" não seria o inverso?
Museu do Cinema disse…
Nanda, vou ver sua cópia pirata de Avatar sim, e ainda vou usar óculos 3D que tenho guardado quando fui ver ET.

Fábio Rockenbach, nenhum filme que arrecada + de 300 milhões em 2 semanas, não é cinema. Talvez vc não entendeu minha colocação, por isso vou explica-la aqui.

Cinema é arte. A sétima arte. Algo subjetivo. Vc provavelmente acha Avatar arte. Não lhe acho errado, obviamente, mas pra mim um filme desse quilate é puro entretenimento, e ai a subjetividade vai "pras cucuias".

Como divertimento eu saúdo Avatar, e saúdo a riqueza de Cameron e dos seus. Acho que o filme deve ser um divertimento maravilhoso. Mas cinema é muito mais que isso.

Qto a perder a credibilidade por não ver o filme e julgá-lo - apesar de deixar claro que não julguei ele como entretenimento e sim como cinema - Acho q vc não acompanha muito o Museu, não sou jornalista e não tenho a menor intenção de ser. Nada contra a profissão (uma das mais importantes creio eu), mas sou contra esse tipo de "credibilidade". Pra mim jornalista bom é aquele que se mostra, dar a cara a tapa, não aquele que anda com a maré. Acompanho muitos deles, não só de cinema, que tem pensamentos opostos ao meu.

O bom disso é a discussão, e creio que consegui incentiva-la em vc, por isso acho que tenho credibilidade junto a ti.
Fabio Rockenbach disse…
Tem credibilidade sim, ou não teria seu blog nos links do DrFrame. Apenas coloquei que esse tipo de idéia que vc colocou é uma arapuca, porque já deixa sua opinião colocada a respeito de um assunto antes que vc sequer o veja. A questão da credibilidade vai no ponto em que, depois de defender algo, você ponha em dúvida o que escreveu caso você goste do filme, por exemplo.
Claro, vc não é jornalista, apenas escrevo isso porque esse tipo de colocação na minha profissão é perigosa e não aconselhável, e porque eu, como crítico e jornalista, me proponho a assistir qualquer coisa, mesmo que seja um Halloween 2, do Rob Zombie. Da mesma forma que não consigo elogiar um filme sem vê-lo, também não posso tecer qualquer outro tipo de comentário negativo.

Os 300 milhões para mim não interferem em nada, ou E O Vento Levou, Mother India, Lawrence da Arábia, ben Hur e outros filmes não seriam cinema também, não teriam nada de arte ( só para citar alguns sucessos de público de outros tempos ).

Quanto à definição de arte, é extremamente subjetivo - basta ver uma bienal, por exemplo - e sei que você colocou que para VOCÊ isso não é arte. Prefiro encarar o cinema como ambos, entretenimento e arte - até porque o cinema, primeiro, foi documento (Lumiéres), depois foi entretenimento (Mélies, comédias de cotidiano) , e depois se tornou arte. Questão de raízes mesmo, considero o cinema os três, e não consigo separar em definições para pensar se vou ou não aceitar esse ou aquele filme.

Mas, como eu disse cara, é uma discussão sobre princípios. Eu entendo seus pontos, apenas quis colocar como eu vejo isso, até em relação à minha profissão - ou eu somente desceria o pau em blockbusters achando que nenhum deles é arte e nenhum vale a pena. Entendo que aqui, você defende sua opinião sem amarras e ninguém te impede de colocar ela da forma como achar que deva ser colocada. Aliás, nós viemos até aqui para saber qual é a opinião e discutir ela.

A propósito, cada fotograma do que eu vi em Avatar é, também, arte visual da mais alta estirpe.

E quanto ao Vício, reiterando, pouco a acrescentar ao seu texto. Herzog consegue resumir em certas passagens um domínio de forma e conteúdo que vem de décadas...

Abraço
Fabio Rockenbach disse…
E a "credibilidade" a que me refiro não tem nada a ver com ir com a maré ou contra ela, até porque, por mais que o público pense que jornalista é tudo comprado ou "maria vai com as outras", te garanto que no exercício da profissão, no batente do dia a dia, o que a gente menos vê é glamour ou motivo para não mostrar a cara.
É fácil criticar alguém por não concordar com sua opinião - olha eu aqui fazendo isso - mas credibilidade, nesse meio, a gente precisa conquistar com opinião embasada, e não com nome, como muitos críticos têm aí. Não sei a qual "credibilidade" entre aspas você se referiu, mas não é a minha.

De novo, grande abraço, entendi seu ponto de vista e respeito ele.
Anônimo disse…
Vai deixar de ver "Avatar"? E ainda ousa dizer que não é Cinema? Sem ao menos tê-lo visto? Me desculpe Cassio mas, com todo respeito, é muita ignorância de sua parte. "Vício Frenético" deve ser um ótimo filme, e você constatou isso assistindo-o. Diga que "Avatar" não é Cinema apenas após tê-lo assistido. Assim, apesar de eu não concordar, ao menos lhe respeitarei. Por enquanto, só sinto pena. Não tem idéia do que está perdendo, seja este um blockbuster ou não.
Museu do Cinema disse…
Fábio, o ideal é sim entretenimento (leia muito dinheiro) e arte, mas é impossivel, pelo fato do cinema ser subjetivo (já que é arte e vc concorda comigo).

Essa discussão é válida e bem vinda e inteligente. Avatar não é cinema por isso, nenhum filme de arte conseguirá levantar o que ele levantou em tão pouco espaço de tempo.

Creio que tivemos sucessos desse quilate com filmes de arte. Mas não em tão pouco periodo de tempo.

Por isso que afirmo que não é arte, ele não tem subjetividade, é produzido pelo Cameron (um Midas sem sombras de duvidas) para agradar a massa de público, ele não terá uma cena (isso é uma aposta minha pq não vi o filme), como o sorriso frenético do Nicolas Cage vendo a alma do morto dançando.

Porque não? Pq se ele colocasse essa cena, e ele tem talento para esse tipo de ideia, poderia tirar alguns espectadores do cinema, ou seja, a finalidade a que se propõe o filme é maior que a sua arte.
Museu do Cinema disse…
Ah, só mais uma coisinha Fábio, o nível de debate que vc propôs aqui é o que gostaria de ter sempre, mas a irracionalidade e a falta de inteligência de alguns impedem isso.

Sempre penso que cinema é discussão, mas para se discutir é preciso ter nível, educação e principalmente inteligência, vc o tem, parabens!
Victor disse…
Prefiro ver 1 Avatar que 100 "Dragonball", "Verdade Nua e Crua", "Gamer", "The Spirit", "Jogos Mortais XIV", "Anaconda 6"...

Essas porcarias sim é que poluem o planeta.
Ranger Azul disse…
Ainda não vi vício frenético, mas pretendo.

Em se tratando de Avatar, entendi o seu ponto de vista. Pode ser a maior bilheteria, mas está longe de ter uma boa qualidade. É apenas um divertimento vazio.
Não creio que uma cena de destruição da natureza em um filme seja páreo para o que está com o mundo.

Abraço.
Museu do Cinema disse…
Victor, não chegaria a colocar Avatar no mesmo patamar de Anaconda 6, o filme da cobra é bem melhor...brincadeira.

Raphael, veja Vício sim, e se vc viu Avatar nos cinemas, tem q assistir Vicio 2 vezes.
Nilo Jorge disse…
Meu caro amigo, hoje foi a primeira visita que fiz a seu blog, e gostei muito.
Vício frenético, é de fato, um grande filme. E sei que vc já deve ter ouvido apelos como esse...mas ASSISTA Avatar... não pq julga ecologicamente incorreto, ou pq gastou 300 milhões de Dólares ou pq é o filme mais assistido na história da humanidade...mas porque o filme é bom, e imagens de boa qualidade e super produção não indicam que isso seja menos arte ou menos nobre...Cinema também é entreterimento...e Avatar é muito mais do que entreterimento...é qualidade! :P Só para constar! Um abraço e parabéns pelo Blog