Vício Frenético

Não vou assistir Avatar. É a minha decisão. A menos que apareça uma cópia pirata em minhas mãos, emprestada obviamente, não verei a maior bilheteria da humanidade e um filme que mudará a estética do cinema. Apesar de tudo isso, e das informações maravilhosas de pessoas que respeito me dizem, minha decisão é que não vou colaborar com 1 centavo, nada, para fazer desse filme o que ele já é.
Avatar não é cinema. Custou 300 milhões de dólares. E teve o retorno dessa quantia em 2 semanas de exibição.
Falam que Avatar tem um apelo mais do que bem vindo de ecologia. Ora, se ele é um dos filmes mais caros já produzido, como pode ser ecologicamente correto? Façam o que falo, mas não façam o que faço?
Comecei a falar de Avatar para justificar minha ida aos cinemas para ver Vício Frenético. Sim, se trata de uma refilmagem, apesar do diretor querer bater em quem diz isso – declara que a questão do nome foi coisa de produtores – e traz Nicolas Cage como protagonista, um ator que daria o braço esquerdo para estar em projetos como Avatar.

New Orleans arrasada pelas conseqüências do furacão Katrina. Numa delegacia, dois detetives, Terence McDonagh (Cage – mediano, que é um elogio maravilhoso para ele) e Stevie Pruit (Val Kilmer) vão procurar provas contra um colega, e acabam encontrando um preso quase morrendo afogado. Os dois riem da situação do detento, que pede desesperado por ajuda. Terence é o mais sarcástico, diz que está usando uma cueca suíça caríssima, Stevie demora para entrar no jogo, mas agora parece adorar. O desespero do preso vai aumentando, em conseqüência as risadas dos policiais. Os dois vão se encaminhando para abandonar o local, quando Terence, numa ação frenética passa a se despir do paletó e dos sapatos e pula na água para salvar o detento.
A próxima cena é ainda melhor. Terence está no médico que lhe recomenda drogas para cuidar das dores nas costas, que serão permanentes em sua vida agora. E por isso, o detetive vai receber a condecoração de tenente (o mau tenente do título original). Conseqüentemente o roteiro nos coloca uma pulga atrás da orelha, será que o pulo na água foi o resultado do problema na coluna?
E a próxima cena então...
Comentários
Herzog é rei.
Pedro Tavares
http://www.cinemaorama.com
Agora, quanto à Avatar, considere que o empréstimo da cópia pirata já rolou! Deixa só eu voltar para Ssa:)
Herzog está bem, também. Contudo, não acho que a obra seja nada espetacular. Ele é, sim, autoral. E isso é louvável hoje em dia.
Agora o principal: gostei! Também estou nessa situação com AVATAR.
Na verdade quase fui aos cinemas. Aí a preguiça e a visualização daqueles seres azuis não me deu muito estímulo. Acho horrível que um filme como esse tenha tudo para ganhar o Oscar e concordo com tudo que disseste. Inclusive sobre a possibilidade de assistir a película. A minha condição é a mesma que a sua.
Abs!
Mas o do Ferrara ainda o põe no chinelo, hehe.
O original, de 1992, é um dos pesadelos tresloucados que fizeram os momentos altos da trajetória do junkie Abel Ferrara, com Harvey Keitel corajosamente exposto no papel do policial viciado que afunda durante uma investigação.
A refilmagem de Werner Herzog é típica encomenda de estúdio, na qual o diretor recebeu funções apenas burocráticas, aclimatando-se nos EUA, onde passou a residir há pouco. Mas o alemão adicionou humor ao clima sombrio e desesperado de Ferrara, além de transportar a ação para a Nova Orleans pós-Katrina. Nicolas Cage imprime cinismo e simpatia a seu personagem, reforçando uma crítica às instituições policiais que a tragédia pessoal diluía.
Não se trata, portanto, dessas nefastas refilmagens hollywoodianas, originadas no esgotamento criativo e na falta de escrúpulos. É outro filme, embora partindo das mesmas premissas. E Herzog, um dos maiores cineastas vivos, como já disse aqui, mesmo quando se dedica a garantir o leitinho das crianças, está quilômetros acima do padrão mediano dessa indústria movida a reciclagens.
E Avatar é cinema sim, conheço muita gente que gosta de culpar alguns filmes por fazerem sucesso. Na verdade, culpam mais os departamentos de marketing e o gosto do público do que o filme em si, por consequência. Já vi isso com Senhor dos Anéis e Titanic.
Anyway...
Vívio Frenético, por sinal, é ótimo. Há pelo menos três cenas que eu me peguei perdido em um longo movimento de câmera sem cortes acompanhando Cage, como quando ele invade uma casa pelo vizinho, parando para roubar um pacote de maconha no caminho, onde o virtuosismo de Herzog está longe de ser gratuito. É um filme de estúdio, mas que consegue contrabandear um espírito autoral que inevitavelmente surge em um filme assinado alguém como ele - e o cara sempre narrou pequenas ou grandes tragédias particulares e loucuras em seus maiores filmes, vide Aguirre, Fitzcarralado e Nosferatu. Não foge muito á regra, apesar de não se comparar a esses três. Um dos melhores do ano até agora - claro que a amostragem de 2010 até agora é bem pequena.
Mas deu vontade de rever o Ferrara para balançar idéias...
PS: A frase "será que o pulo na água foi o resultado do problema na coluna?" não seria o inverso?
Fábio Rockenbach, nenhum filme que arrecada + de 300 milhões em 2 semanas, não é cinema. Talvez vc não entendeu minha colocação, por isso vou explica-la aqui.
Cinema é arte. A sétima arte. Algo subjetivo. Vc provavelmente acha Avatar arte. Não lhe acho errado, obviamente, mas pra mim um filme desse quilate é puro entretenimento, e ai a subjetividade vai "pras cucuias".
Como divertimento eu saúdo Avatar, e saúdo a riqueza de Cameron e dos seus. Acho que o filme deve ser um divertimento maravilhoso. Mas cinema é muito mais que isso.
Qto a perder a credibilidade por não ver o filme e julgá-lo - apesar de deixar claro que não julguei ele como entretenimento e sim como cinema - Acho q vc não acompanha muito o Museu, não sou jornalista e não tenho a menor intenção de ser. Nada contra a profissão (uma das mais importantes creio eu), mas sou contra esse tipo de "credibilidade". Pra mim jornalista bom é aquele que se mostra, dar a cara a tapa, não aquele que anda com a maré. Acompanho muitos deles, não só de cinema, que tem pensamentos opostos ao meu.
O bom disso é a discussão, e creio que consegui incentiva-la em vc, por isso acho que tenho credibilidade junto a ti.
Claro, vc não é jornalista, apenas escrevo isso porque esse tipo de colocação na minha profissão é perigosa e não aconselhável, e porque eu, como crítico e jornalista, me proponho a assistir qualquer coisa, mesmo que seja um Halloween 2, do Rob Zombie. Da mesma forma que não consigo elogiar um filme sem vê-lo, também não posso tecer qualquer outro tipo de comentário negativo.
Os 300 milhões para mim não interferem em nada, ou E O Vento Levou, Mother India, Lawrence da Arábia, ben Hur e outros filmes não seriam cinema também, não teriam nada de arte ( só para citar alguns sucessos de público de outros tempos ).
Quanto à definição de arte, é extremamente subjetivo - basta ver uma bienal, por exemplo - e sei que você colocou que para VOCÊ isso não é arte. Prefiro encarar o cinema como ambos, entretenimento e arte - até porque o cinema, primeiro, foi documento (Lumiéres), depois foi entretenimento (Mélies, comédias de cotidiano) , e depois se tornou arte. Questão de raízes mesmo, considero o cinema os três, e não consigo separar em definições para pensar se vou ou não aceitar esse ou aquele filme.
Mas, como eu disse cara, é uma discussão sobre princípios. Eu entendo seus pontos, apenas quis colocar como eu vejo isso, até em relação à minha profissão - ou eu somente desceria o pau em blockbusters achando que nenhum deles é arte e nenhum vale a pena. Entendo que aqui, você defende sua opinião sem amarras e ninguém te impede de colocar ela da forma como achar que deva ser colocada. Aliás, nós viemos até aqui para saber qual é a opinião e discutir ela.
A propósito, cada fotograma do que eu vi em Avatar é, também, arte visual da mais alta estirpe.
E quanto ao Vício, reiterando, pouco a acrescentar ao seu texto. Herzog consegue resumir em certas passagens um domínio de forma e conteúdo que vem de décadas...
Abraço
É fácil criticar alguém por não concordar com sua opinião - olha eu aqui fazendo isso - mas credibilidade, nesse meio, a gente precisa conquistar com opinião embasada, e não com nome, como muitos críticos têm aí. Não sei a qual "credibilidade" entre aspas você se referiu, mas não é a minha.
De novo, grande abraço, entendi seu ponto de vista e respeito ele.
Essa discussão é válida e bem vinda e inteligente. Avatar não é cinema por isso, nenhum filme de arte conseguirá levantar o que ele levantou em tão pouco espaço de tempo.
Creio que tivemos sucessos desse quilate com filmes de arte. Mas não em tão pouco periodo de tempo.
Por isso que afirmo que não é arte, ele não tem subjetividade, é produzido pelo Cameron (um Midas sem sombras de duvidas) para agradar a massa de público, ele não terá uma cena (isso é uma aposta minha pq não vi o filme), como o sorriso frenético do Nicolas Cage vendo a alma do morto dançando.
Porque não? Pq se ele colocasse essa cena, e ele tem talento para esse tipo de ideia, poderia tirar alguns espectadores do cinema, ou seja, a finalidade a que se propõe o filme é maior que a sua arte.
Sempre penso que cinema é discussão, mas para se discutir é preciso ter nível, educação e principalmente inteligência, vc o tem, parabens!
Essas porcarias sim é que poluem o planeta.
Em se tratando de Avatar, entendi o seu ponto de vista. Pode ser a maior bilheteria, mas está longe de ter uma boa qualidade. É apenas um divertimento vazio.
Não creio que uma cena de destruição da natureza em um filme seja páreo para o que está com o mundo.
Abraço.
Raphael, veja Vício sim, e se vc viu Avatar nos cinemas, tem q assistir Vicio 2 vezes.
Vício frenético, é de fato, um grande filme. E sei que vc já deve ter ouvido apelos como esse...mas ASSISTA Avatar... não pq julga ecologicamente incorreto, ou pq gastou 300 milhões de Dólares ou pq é o filme mais assistido na história da humanidade...mas porque o filme é bom, e imagens de boa qualidade e super produção não indicam que isso seja menos arte ou menos nobre...Cinema também é entreterimento...e Avatar é muito mais do que entreterimento...é qualidade! :P Só para constar! Um abraço e parabéns pelo Blog