film noir

INTERNA. NOITE. ESCRITÓRIO DO DETETIVE FRANKLIN BRETON. P&B.
Em cima da mesa de jacarandá escuro repousa uma Smith & Wesson calibre 28, seu cano ainda solta o último fio de fumaça, atrás, sentada confortavelmente, a Sra. Guinevere acende seu cigarro na piteira. Olhando fixamente para um corpo encolhido no chão de madeira. O silêncio do ambiente só é quebrado pelo barulho da secretária, a Srta. Judith Tax, nervosamente batendo à porta. O olhar e a expressão da Sra. Guinevere não sofrem alteração. Finalmente a porta se abre e Judith presencia a cena. Caído, Franklin parece não crer no susto que levou, mas olhando para trás de seu corpo, a parede se encarrega de esclarecer tudo. – Foi só um brincadeira Judith, está tudo bem.

Film noir – Terence Pitts – 2004 (Livro)

Em 1941, com O Falcão Maltês, John Huston inaugurou um estilo de filme que até hoje gera discussão sobre se é um gênero, como o drama e a comédia, ou um movimento, como foi o cinema novo, o expressionismo Alemão e a Nouvelle Vague. Segundo o cineasta norte-americano Paul Scharader, não resta duvidas de que o noir é uma expressão ou um dogma do cinema de Hollywood.

Na França, em 1946, os críticos de cinema colocaram a alcunha de noir (preto), e traçaram um perfil elogioso enumerando as qualidades das novas produções, principalmente os filmes policiais, e clamando por novas películas carregadas dessa estética.

Filosofando um pouco em cima dessa estética, iremos encontrar o seu inicio na Guerra, depois que os Estados Unidos foram atacados em Pearl Harbor. A partir daí, a sociedade norte-americana aprendeu a viver com as batalhas, perdendo seus filhos e fazendo fortuna com sua indústria bélica. A morte, o dinheiro e as armas são recorrências constantes no film noir.

Baseado mais no roteiro do que nas interpretações e direção, o noir muitas vezes é caracterizado como um filme de segunda, um filme B, pelas atrizes fracas e atores canastrões, que foi relembrado recentemente no excelente A Dália Negra (2006), do diretor que flerta com o noir, Brian De Palma, ou ainda em Chinatown (1974), em Cabo do Medo (1991) Scorsese se mostra um especialista no tema.

Alguns elementos são essenciais, como a femme fatale, ou seja, a mulher loira, linda e fria que ao mesmo tempo que demonstra uma fragilidade, é dissimulada e calculista, objetivando sempre o dinheiro. A estética que privilegia as cores escuras e os ambientes de pouca luz. Geralmente são filmes com uma direção de fotografia mais rica que a própria direção.

Extraindo de filmes noir de 1941 a 1958, o livro Film Noir, de Terence Pitts, é uma ode, com direito a fotos, ao noir. O livro ainda faz uma seleção de dez filmes noir: Double Indemnity, que foi homenageado por De Palma no noir Femme Fatale (2002), Kiss Me Deadly, Gun Crazy, Criss Cross, Detour, In A Lonely Place, T-Men, Fuga do Passado (1948), The Reckless Moment, and Touch of Evil.

Estaremos, revisitando alguns filmes noir ao longo de alguns meses aqui no blog, a intenção é trazer películas que marcaram o estilo, como são as aqui já citadas, podendo ser acrescentadas a medida de seus lançamentos em DVD.

Comentários

Kamila disse…
Cassiano, não sou a maior conhecedora do gênero noir, portanto será um prazer ler a sua retrospectiva de filmes neste gênero.
Otavio Almeida disse…
Belo post! Parabéns, Cassiano!

Abs!
Museu do Cinema disse…
Nem eu Kamila, mas sou fã! Só não sei se classificaria como gênero ou movimento, de qualquer forma, o cinema noir é muito interessante de debater.

Obrigado Otávio.
Kamila disse…
Qualquer filme interessante é bom de se debater, Cassiano. Não importa o gênero! ;-)

Bom final de semana!
Museu do Cinema disse…
Mas a discussão é para saber se ele é gênero ou movimento Kamila.
Túlio Moreira disse…
Cassiano, pessoalmente não considero o noir um gênero, mas um estilo que pode ser encaixado em outros gêneros. Se formos analisar, é o mesmo que acontece com a ficção científica: existem comédias com temática sci-fi, dramas com temática sci-fi, filmes de ação com temática sci-fi etc.

A maioria dos noir se encaixaria no gênero suspense, mas Blade Runner está aí para ser uma exceção.

abs e parabéns pelo post!
Museu do Cinema disse…
Pois é Túlio, é uma grande discussão, eu concordo com vc, mas tenho minhas perguntas tb.

Acho que ele é gênero, mas tb já foi um movimento.
Carla Martins disse…
Adorei a iniciativa! Parabéns!

Beijo
Kamila disse…
Eu acho que o cinema noir é um gênero E um movimento.
Museu do Cinema disse…
Obrigado Carla.

É o que penso Kamila, ele foi movimento, quando muitos filmes aplicavam a mesma tematica, e os "dogmas" do noir, por volta dos anos 40 e 50, mas hoje ele se tornou um gênero, porque misturou influências e não mais segue a mesma "linha de produção".

Brian De Palma e David Fincher são dois cineastas do gênero, essa é a minha opinião.
Kamila disse…
Concordo com tudo que você disse, Cassiano!
Marcus Vinícius disse…
Muito bom. Não conheço muita coisa sobre o gênero/estilo, então vou estar ligado. Saudações e abraços.
Reles Transeunte disse…
Eu chamo de gênero mesmo.
Reles Transeunte disse…
Cara, gostei muito deste Blog.
Eu entrei por causa do Lynch. Bacana. estou até criando um pra mim, mas sou um tanto amarrado em computador... Daqui a um tempo, se quiseres, podes postar no senhorguido.wordpress.com. Ok?!
Reles Transeunte disse…
Ah, pra mim, é gênero, como Western, e comédia, e comédia romântica, e ficção científica... Não que os gêneros não possam se misturar, como acontece em Kill Bill, por exemplo. No cinema moderno, essa heterogeneidade pode ser conferida em Acossado, por exemplo, ou mesmo em todo o cinema "filho da Nouvelle Vague", com alguns toques de documentário. No cinema dito pós moderno, essa marca é marcante.
Reles Transeunte disse…
Eu estou pensando em estudar sobre isso, pesquisar, sabe?! É legal poder falar sobre essas coisas.
Abraço!
Museu do Cinema disse…
Valeu Marcelo, seja bem vindo ao blog e a comunidade bloqueira.
Anônimo disse…
Bela iniciativa.
Tomo a liberdade de convidar a todos vocês para entrarem na comunidade Film Noir - Brasil do orkut (link http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1660283), que em março/2008 completará 3 anos de fundação.
Sou bastante suspeito pra falar sobre o noir, gênero (ou não, pouco importa) que eu amo de paixão e cujos filmes do período clássico (1941 - 1958) eu não canso de vasculhar (pelas minhas contas, já vi mais de 200, todos os mais conhecidos inclusive...mas sempre tem mais pra ver).