A Pele

Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus – Steven Shainberg – 2006 (Cinemas)

Gostaria muito de saber a escola que o tradutor (inventor) do título nacional estudou, inverter fur (que significa pêlos) por A Pele, é no mínimo uma ignorância. E nem adianta afirmar que estão falando de casacos de pele, pois todo o filme gira em torno da obsessão imaginária da fotografa Diane Arbus (Nicole Kidman – excelente, o que já vem se tornando uma rotina) por pêlos. Primeiro, devido ao ramo de negócios de seus pais, David (Harris Yulin) e Gertrude Nemerov (Jane Alexander), que vendem casacos de pele, depois pelo vizinho misterioso, Lionel Sweeney (Robert Downey Jr. – sobrevivendo às drogas), que sofre de uma doença chamada hipertricose, que cobre todo seu corpo de pêlos.

Tirando esse erro, assistir Fur é uma experiência incrível, mas não por contar a história dessa extraordinária artista, Diane Arbus – pronuncia-se Dee Ann, alias, logo no inicio do filme somos advertidos de que aquela história é um retrato imaginário dessa fotografa singular (reafirmando o subtítulo original). O fato é que poucas vezes o cinema conseguiu expressar o lado artístico de uma “biografada” de uma maneira tão inteligente e criativa, mesmo para quem não conhece a história ou nunca ouviu falar sobre Arbus.

A lembrança do cineasta David Lynch é inegável, e vem se tornando uma referência do cinema de Shainberg, desde Secretaria (2002). Atreveria-me a dizer que a diferença entre os dois é o plano dimensional, enquanto Steven Shainberg foca no plano terrestre, Lynch é mais do plano espiritual. A fotografia, abusando da saturação do branco, é do mestre Bill Pope, de Matrix (1999), e a trilha sonora de Carter Burwell, uma mistura do suspense que já tinha feito em Fargo (1996), uma das melhores trilhas de cinema, com um toque (trompete) de ritmo latino, aqui ele traz uma composição limpa e entusiástica.
O filme é uma grande homenagem a essa genial fotografa, que, usando técnicas de uma metodologia ficcional, traça o perfil de Diane através da sua paixão por Lionel. A cena do primeiro contato dos dois remete a uma outra cena, a do exibicionismo de Arbus na varanda, mas, ao olhar Lionel, mesmo estando vestida, a sensação é de nudez. Nudez de pudores, de fantasias. Nudez do teatro da vida.

Comentários

Carla Martins disse…
Gente! Esse filme deve ser o máximo!

Fiquei louca de vontade de ver! Vou ler mais sobre essa doença dos pêlos, porque eu tenho HORROR a pêlos e acho que vou é ficar morrendo de nojo do filme. Será?
Museu do Cinema disse…
Não Carla, o diretor é muito sutil nesse ponto.
Túlio Moreira disse…
Nudez de pudores, de fantasias. Nudez do teatro da vida. POETRY!

Estou com muita vontade de ver esse filme, visto que o trailer me agradou e muito. Climaço de suspense com drama, Nicole Kidman linda. É estrear que seja pra eu conferir nos cinemas.

abs!
Museu do Cinema disse…
Sim Túlio, é um filmão. E estou me tornando fã desse diretor, um David Lynch mais real.
Marcus Vinícius disse…
Deve ser do caralho esse filme, e ainda tem o plus Nicole Kidman.

Hehe, quando falam sobre traduções de títulos, sempre me lembro do 'Lost In Translation', popular 'Encontros e Desencontros'. Err... perdidos na tradução? Nah, impressão nossa.

=D
Museu do Cinema disse…
Pois é Marcus, não tem quem me tire da cabeça que esse título foi de próposito para essas perolas. Sinceramente, se fosse eu o diretor da obra, não gostaria nem um pouco de ter o nome mudado, só em casos excepcionais que não me vem nada na mémoria agora.

Que imagem linda a sua, por falar nisso veja essa aqui, alias, todos os cinéfilos dêem uma olhada:
http://www.clicrbs.com.br/blog/fotos/1459_foto.jpg
Marcus Vinícius disse…
Esse é o espírito, treino é jogo e jogo é guerra.
Anônimo disse…
Parabens pela critica, Cassiano! Fiquei com agua na boca, mal posso esperar pra conferir o filme. Abs,
Anônimo disse…
hehehehehe, é difícil imaginar um David Lynch real, rs

abs!
Museu do Cinema disse…
Obrigado Romeika, vale a pena, o filme é excelente.

Túlio, veja o filme ou Secretária e fica fácil imaginar.
Kamila disse…
Quero muito assistir a este filme e sua crítica só fez aguçar ainda mais essa minha vontade.
Museu do Cinema disse…
Obrigado Kamila, a intenção é essa!
Anônimo disse…
Um filme sublime em imagens e interpretações! Fiquei tão alucinado pela personagem que tenho baixado na internet material dela para conhecer mais a sua obra fotográfica. Realmente, Nicole Kidman se supera a cada filme. E a tradução? Bem... No Brasil, só arranja emprego quem não merece!

(http://claque-te.blogspot.com): O Último Rei da Escócia, de Kevin Macdonald.
Museu do Cinema disse…
É Roberto, tenho pensando muito nisso ultimamente, atualmente vivemos no mundo dos incompetentes.

Quem manda no Brasil é aquele que conseguiu fazer um bom arranjo! Vide nosso atual Ministério!

Quanto o filme tentei mostrar um pouco de Diane Arbus num outro post que vc pode ver clicando no nome dela, e lá tem um link interessante para algumas obras da fotografa, vale a pena dá uma olhada.
Anônimo disse…
Cassiano, até agora tô passando mal depois de ter assistido a ERASERHEAD - primeiro e melhor longa de Lynch. Você já viu essa preciosidade?

abs e bom domingo!
Museu do Cinema disse…
Vi sim Túlio, até comentei sobre ele na revisita a obra de Lynch, vc viu pela internet? Onde?
Alex Gonçalves disse…
Cassiano, acredito que se lembre do quanto estou morrendo de vontade de ver ao filme, mas as porcarias dos cinemas de minha cidade nem fez questão de exibí-lo. Estarei esperavando com ilimitadas expectativas no DVD. Gostei muito do seu texto, que só me incentivou a aguardar pelo filme. E a excelência de Nicole Kidman está cada vez maior!
Museu do Cinema disse…
Eu gosto muito da Nicole como atriz, e ela tá mesmo impressionando nas escolhas e nas interpretações Alex. Lembro que vc comentou algo a respeito desse filme em seu blog.
Anônimo disse…
Opa, Cassiano, vou lá comentar no post de Eraserhead.
Anônimo disse…
Oi, vamos fazer uma correção. O nome da doença é hipertricose. Tricotomia é corte de pêlos.
Museu do Cinema disse…
Sim, vc tem razão J Cesar, vou tratar de corrigir o erro.

Obrigado.