Guerra Fria

Zimna Wojna - Pawel Pawlikowski - 2018

Num enorme salão, uma festa ocorre animada, um casal conversa num canto, encostados num grande espelho que reflete toda a festa num ângulo inusitado. Ela parece entediada, ele um pouco mais entusiasmado. Dividem um cigarro e uma conversa íntima até que se aproxima um homem, pelas costas, porque estamos de frente a um espelho. Seu diálogo é direto ao casal, ele está maravilhado com o espetáculo que acabara de assistir.

O cineasta polonês Pawel Pawlikowski parece ter atingido a maturidade cinematográfica. Seu filme anterior, Ida (2013), já trazia essa fotografia preta e branca e uma energia para os enquadramentos ousados. Cold War - Guerra Fria além desse vértice, é sublime na história de amor de uma cantora, Zula (Joanna Kulig) e um músico, Wiktor (Tomasz Kot), durante a ocupação comunista/nazista da Polônia, no chamado Pacto Molotov-Ribbentrop (quase sempre ignorado por "historiadores").

Voltando ao 1° parágrafo, o homem maravilhado se trata de Kaczmarek (Borys Szyc),o gerente administrativo do conservatório de música, dança e artes. A arte folclórica polonesa ganhou a atenção dos comunistas/nazistas que agora pretendem adicionar elementos como reforma agrária, paz global e o líder Stalin nas interpretações. É chocante ver uma apresentação do grupo enquanto um cartaz do ditador, e maior genocida da humanidade, Stalin, sobe por trás deles, e ainda obrigados a cantarem música em seu louvor.

O talento de Wiktor, também descobridor do talento de sua musa, Zula, acaba servindo de propaganda do socialismo, para sua tristeza e amargura. A interpretação do ator polonês é um dos maiores trunfos de Pawel. Impossibilitado de dizer não (quem combate o comunismo geralmente paga com sua vida), sua performance começa a ser contida, cabisbaixa, envergonhada.

O filme é baseado nas lembranças do diretor de seus parentes que passearam o mundo para reencontrar o amor, Tadeusz Sygietynski e Mira Ziminska, fundadores do grupo folclórico Mazowske.

Comentários

Kamila Azevedo disse…
Não assisti ainda, mas a julgar pelo desempenho que este filme tem tido na temporada de premiações atual, deve ser imperdível!