Os Descendentes

The Descendants – Alexander Payne – 2011 (Cinemas)

Meus amigos no continente acham que só porque vivo no Havaí, estou no paraíso. Como férias permanentes. Que ficamos só bebendo maitais, balançando os quadris e pegando ondas. Eles são loucos? Acham que somos imunes à vida? Como é possível achar que nossas famílias erram menos, temos cânceres menos fatais, enxaquecas menos dolorosas? Diabos, não subo numa prancha de surfe há 15 anos.

Essa angústia, denunciada logo no início de Os Descendentes, pela personagem Matthew King de George Clooney, é o prelúdio do filme. E ele é um sentimento moderno, atual da nossa época, e pelo qual todos nós sofremos um pouco. Matt chegou num momento da vida em que toda essa angústia será trocada por outra: como educar as duas filhas com a mulher em coma, e tendo que decidir sobre um negócio bilionário da família.

Baseado no livro de Kaui Hart Hemmings – que faz uma ponta como à assistente do amante da esposa de Clooney pelo telefone, a película procura nas locações da ilha norte-americana centrar o relato, assim como descreve a publicação.

Ao contrário da grande maioria, achei George Clooney caricato e deslocado num tipo de papel que geralmente ele transforma em comédia escrachada, vide seus filmes com os Irmãos Coen. Sua personagem é baseada na interpretação de Marcello Mastroianni em Estamos Todos Bem (1990) de Giuseppe Tornatore.

O grande responsável por Os Descendentes ser um dos melhores filmes do ano é Alexander Payne, um cineasta que possui uma filmografia sem retoques, além de ser um cinéfilo atuante – colaborou junto com Bráulio Mantovani no roteiro do nosso Cidade de Deus (2002). Payne mistura humor com assuntos sérios com a elegância de um lorde inglês. Gostei bastante da atuação de Judy Greer e Robert Foster, um ator que quando dirigido por um craque entrega atuações excepcionais.

Comentários

Anônimo disse…
é um filme singelo como já era de se esperar vindo de payne. o elenco está ótimo, o roteiro é ótimo e a direção segura, uma vez que não precisa de muito esforço. um ótimo filme, digno de todos os elogios e indicações.
Kamila disse…
Acho sempre muito bom quando você fala tanto sobre um filme, mesmo fazendo textos relativamente curtos. Você fala o necessário, especialmente sobre a essência do filme.

Eu adorei "Os Descendentes", um filme simples, porém emocionante. A forma como o Matt King reagia às diversas situações que se apresentavam a ele me chamou muito a atenção. Talvez, por isso mesmo, tenha adorado tanto a atuação do George Clooney, que, pra mim, pela primeira vez, mostrou vulnerabilidade como ator.