O Desprezo

Le Mépris – Jean-Luc Godard – 1963 (DVD)

- Sempre que ouço a palavra cultura, eu pego meu talão de cheques. (Jeremy Prokosch – o produtor)
- Alguns anos atrás, alguns terríveis anos atrás, os nazistas usavam um revólver ao invés do talão de cheques. (Fritz Lang – o diretor)

Ao fundo se enxerga a silhueta de uma mulher lendo um livro e sendo acompanhada, no seu lado esquerdo, por uma equipe de filmagem no trilho. Os créditos iniciais começam a surgir e são narrados pela inconfundível voz do diretor Jean-Luc Godard.

Com essa introdução original Godard nos avisa que seu filme não vai seguir o protocolo. Normal, vindo de um dos criadores da nouvelle vague.

Inspirado na novela Il Disprezzo do escritor romano Alberto Moravia, O Desprezo foi aclamado pela crítica e considerado um dos grandes filmes do genial e provocativo cineasta. A película traz uma participação inusitada e especialíssima, a do diretor alemão Fritz Lang, interpretando a si mesmo.

Carregado do universo do cinema, rodado nos estúdios cinecittà, Le Mépris possui o ar de cinema já em sua trama. O roteirista Paul Javal (Michel Piccoli) vai a Roma trabalhar na adaptação de A Odisséia, do diretor Fritz Lang. Porém sua vida pessoal passa por problemas com sua esposa, a bela Camille (Brigitte Bardot). O casal se encontra numa teia de ciúmes e indiferença.

Durante as filmagens do longa, Brigitte Bardot sofreu demais com o assédio dos paparazzi italianos, que não mediam esforços para flagrar a maior diva do cinema naqueles tempos. BB teve problemas sérios com os fotógrafos de celebridade durante toda a sua vida. Recentemente a atriz afirmou que sua aproximação dos animais, ela possui uma infinidade de gatos e cachorros, foi por conta de estar sempre na posição de animal.

Uma das melhores cenas do filme se passa no set de uma produção que fora filmada nos lendários estúdios da cinecittà, se enxerga toda a frente das casas que imitam as reais, mas se trata de madeira e sem nada por dentro, é com essa moldura que Camille pega uma carona no Alfa Romeo vermelho e conversível do produtor mercenário norte-americano Jeremy Prokosch (Jack Palance), para desespero de Paul.Outro momento, esse característico do cinema de Godard, é quando o roteirista Paul Javal conversa com o diretor Fritz Lang sobre a novidade do cinemascope, dizendo que adora essa nova tecnologia, e o alemão retruca dizendo que ela não foi feita para filmar humanos e sim cobras e funerais.

O Desprezo pode ser analisado através da personagem de Brigitte Bardot, que estava no auge da beleza e sensualidade, ela representa o cinema, por isso seu encantamento com cinecittà, mas está dividida entre o marido artista, e o produtor norte-americano rico.

Comentários

Anônimo disse…
Talvez o maior filme de todos os tempos.

Bela resenha Cassiano.