Valsa com Bashir

Vals Im Bashir – Ari Folman – 2008 (Cinemas)

“Eles ficam lá, latindo. 26 cachorros. E vejo a cara de mau deles. Eles vêm para matar. E dizem para meu chefe Bertold: ‘Entregue-nos Boaz Rein, ou vamos comer seus clientes. Em um minuto!’”.

Dizem que sonhos são representações da realidade, então imagine os sonhos de quem já viu o inferno de perto?

O cinema é basicamente entretenimento e cultura, essas duas vertentes podem ou não se misturar. É raro, mas acontece. Por elas passa o artístico, aquele toque que só os grandes gênios conseguem, e acabam deixando um frame familiar.

A reunião de entretenimento, cultura e arte talvez seja o grande oásis dos cineastas. Valsa com Bashir entra nesse patamar por uma escolha do diretor Ari Folman, na verdade uma adaptação de circunstâncias, visto que seria impossível transpor o belíssimo roteiro do próprio cineasta a um filme normal, com atores e cenários reais, sem o dinheiro e a aposta de um grande estúdio. E cá entre nós, vocês acham mesmo que uma Warner, a atual vencedora do Oscar, iria produzir um filme de guerra israelense, falado na língua natal, sem heróis ou bandidos?

O filme autobiográfico é proibido no Líbano, devido à lei que impede o comércio com Israel, mas seus piratas podem ser adquiridos em Hamra, Beirute, onde Valsa se passa. O título significa a aliança que Israel fez com o líder cristão libanês Bashir Gemayel para expulsar guerreiros palestinos do Líbano. Mas também é uma referência a dança. A película é uma valsa em quadros com imagens belissimamente casadas a uma trilha sonora perfeita do compositor alemão Max Richter. As músicas que compõem o restante da trilha mostram que a valsa terá rock, ópera, e até rap israelense. SOBERBA!

Porém as composições de Richter dão o tom do filme, o piano, o violino, e os instrumentos de sopros das 11 partituras têm em comum o sentimento de nos fazer refletir sobre a humanidade perante as barbáries que cometemos diariamente, e as atrocidades em nome de nada que já foram cometidas.

Ari Folman prova a força do cinema ao ser imparcial e ao colher elogios libaneses, ao final da exibição ficamos com a sensação de que por mais bestialidades que a humanidade produza, as maravilhas vem em igual escala, dessa vez ela se mostrou através das melodias de uma obra-prima da sétima arte.


Comentários

Otavio Almeida disse…
Quero muito ver esse filme... E você foi muito bem nesse texto. Principalmente no último parágrafo.

E gostei muito do post sobre o cinema inglês! Só que você sabe que Hitchcock era ignorado no início, né? Até mesmo por Hollywood. Só começaram a reverenciá-lo quando prestaram mais atenção aos textos apaixonados dos famosos críticos da Cahiers du Cinema sobre os filmes do diretor. Há até um livro que reconstitui uma entrevista de Truffaut a Hitchcok. Chama-se... HITCHCOCK/TRUFFAUT. Já leu? É obrigatório!

Abs!
Museu do Cinema disse…
Obrigado Otávio!

Claro que tenho esse livro, é essencial na biblioteca de cinéfilos. Mas o velho Hitch não fez parte do Free Cinema, ele é anterior ao movimento.
Otavio Almeida disse…
Ah, sim sim! Eu sei. Só quis comentar sobre o Hitch! Aliás, você tem um favorito dele? O meu é UM CORPO QUE CAI.

Abs!
Museu do Cinema disse…
Puts, agora vc me pegou, fico com três: Janela Indiscreta, Pacto Sinistro e Disque M para Matar.

Poderia colocar tb Ladrão de Casaca, que já comentei aqui no blog, mas acho que esse foge um pouco do estilo de Hitchcock.
Rogerio disse…
Eh cassiano, to vendo que o amigo tambem ficou deslumbrado por esse filme.Pra mim, fica entre os 5 melhores dos ultimos 5 anos.
A trilha é de arrasar.A cena dos cachorros iniciais é de embasbacar qualquer cinéfilo!!
Obra prima!!
Anônimo disse…
Ainda não vi este filme, mas só tenho lido opiniões positivas sobre ele. Pode me dizer se "Valsa com Bashir" consegue ser melhor que "Persépolis", um outro filme de animação com temática política?
Ramon disse…
Demais a resenha!
Descreveu com exatidão a façanha de fazer uma animação com conteúdo.
Trilha sonora absurda, mesmo!
E o final, hein? Chocante!

Adorei a escolha da imagem que você colocou no final. Toda a cena do barco é boa demais; Aquela "câmera" se aproximando sob o fundo musical de um hit marcou época não sai da cabeça.

Abs!
Anônimo disse…
Gostei muito de "Valsa com Bashir", sem dúvida foi um dos melhores dessa última temporada.
Museu do Cinema disse…
Kamila, segundo Gutemberg, especialista em quadrinhos, nem tem comparação, Valsa com Bashir é muito melhor, apesar dele adorar Persepolis.

Ramon, essa cena é mesmo demais!
Anônimo disse…
hola, vals con bashir es una obra fuerte e intensa, autobigrafica y radical en sus planteamientos, pero el animador de esta pelicula realizado este corto bellisismo, velo
http://fotogeniacine.blogspot.com/2009/03/zona-cerrada.html

saludos