No Sufoco

O que parece ser uma sala de aula nota-se rapidamente que está sendo preparada para uma reunião, mas não uma reunião comum, de pais e professores, pela inibição e olhares perdidos parece uma reunião de alcoólicos anônimos, ou doentes de câncer. É mais ou menos isso. Bom, você lembra daquela história da dona de casa que foi surpreendida pelos amigos, na noite de seu aniversário, brincando (expressão adulta) com o cachorro da família? Ou aquela história da líder de torcida mais popular da escola que foi fazer lavagem estomacal e encontraram um litro de esperma? Ou ainda aquelas mulheres que deixam as portas dos banheiros de avião destrancadas? Essas pessoas existem e se encontram mensalmente nessa reunião de viciados em sexo. Eu só não entendo o que Victor Mancini faz ali, obviamente ele sabe controlar seus impulsos sexuais, talvez sua razão de estar ali seja outra. Afinal, qual o lugar mais fácil de se conseguir sexo se não no meio de ninfomaníacas?
A cultura pop no texto de Chuck Palahniuk funciona como inserção do leitor nos seus devaneios criativos. Assim como fez com Clube da Luta (1999), Chuck situa-nos num ambiente familiar para rapidamente nos levar a uma alegoria da realidade e finalizar pontuando com uma crítica social contundente e riquíssima.
Victor Mancini é a “espinha-dorsal da América colonial”. Ele trabalha num museu vivo representando um colono para excursões escolares. Sua outra fonte de renda são seus salvadores. Pessoas que ele escolhe em restaurantes para que lhe desengasguem. “Sou como filho deles, eles passam a ter em mim o sentimento de ter me dado à vida”. Porém não vá apenas pelas aparências. Mancini é um dedicado filho, ele sustenta e visita a mãe moribunda, Ida Mancini (Anjelica Huston), num hospital psiquiátrico, apesar da mãe nem lhe reconhecer e viver falando mal do filho. Tudo bem que ele já comeu 80% das enfermeiras do local, mas dizer que ele só vai lá para isso é injustiça. Ah, as outras que fazem parte dos 20% restantes, são novas ainda.

O californiano Sam Rockwell ganhou vida em Hollywood depois de seu papel como o psicopata Wild Bill em À Espera de um Milagre (1999). Poucas vezes um ator conseguiu interpretar um assassino frio e cruel com tamanha profundidade de loucura e normalidade como Sam conseguiu. No Sufoco é seu primeiro papel importante como protagonista, e o resultado não poderia ser mais óbvio, Rockwell é do primeiríssimo time de atores norte-americanos.
O filme é dirigido e roteirizado pelo ator Clark Gregg, que faz o gerente colonial chato e zé mané do museu. Apesar de ser sua estréia, o filme não perde ritmo. Sua direção aponta para Sam Rockwell e deixa ele nos conduzir pela parábola de Palahniuk do quanto nós somos rotuladores e rotulados. Mais uma forte critica social para refletirmos, vinda de um dos maiores autores contemporâneo.
Comentários
Depois de sua resenha estou como a turma do CQC. "Correndo atrás".
(A piadinha é uma homenagem ao primeiro de abril. Rsrs).
Abs!