Ensaio sobre a Cegueira
Bindness – Fernando Meirelles – 2008 (Cinemas)
O sinal vermelho muda para o verde e só se ouve mais buzinas. Alguém no carro grita que não consegue enxergar, dois homens se aproximam e tentam contornar a situação. O segundo se oferece a levar o cego em casa.
Para o autor José Saramago esse homem representa a humanidade. Porque se existia um código mudo de não se tomar vantagem de um homem deficiente, ele acabou de quebrá-la roubando o cego.
A partir desse homem (Yusuke Iseya) o vírus da cegueira branca se espalha para sua esposa (Yoshino Kimura), o ladrão (Don McKellar – também roteirista do filme), o médico que ele vai se consultar (Mark Ruffalo – magistral e sem retoques), a prostituta (Alice Braga), e o velho com o tapa-olho (Danny Glover), que estavam no consultório. Mais a personagem principal é a esposa do médico (Julianne Moore – SOBERBA), a única que consegue enxergar, mas que, por amor, decide fingir-se cega e seguir o marido na quarentena.
Ensaio sobre a Cegueira é eficiente na adaptação da difícil história do livro homônimo, não à toa o autor resistiu tanto em entregar os direitos. Saramago aprovou o resultado. Meirelles construiu a perfeita alegoria, ou ensaio redundantemente, do que seria uma interpretação do próprio autor de uma obra interpretativa e de duras críticas sociais. Não me recordo de um filme com tamanha análise, não só fundamentada, mas abalizada, e que rendesse uma rica discussão do nosso papel no mundo e o que significa convivermos em sociedade.
Por uma daquelas coincidências do destino, Ensaio sobre a Cegueira foi o primeiro livro que Fernando Meirelles quis adaptar para estrear no cinema. Anos mais tarde, e 4 películas depois, foi convidado pelo produtor canadense Niv Fichman para dirigir exatamente a mesma adaptação. A lição do destino é evidente, apenas Meirelles conseguiria transformar essa obra singular, em um filme único.
VISÃO X AUDIÇÃO
Porém muito dos méritos do filme deve ser partilhado com o editor Daniel Rezende e o diretor de fotografia César Charlone, responsável pelo corte do cineasta das narrações da personagem de Danny Glover. Afinal ele conseguiu exprimir nas cores o que seria dito com a voz. Enquanto que Daniel conseguiu dar movimento e rapidez a uma obra parada e lenta – a cena do estupro coletivo foi acertadamente cortada graças ao talento de Rezende. Gostei também da trilha do Marco Antônio Guimarães, com seu grupo Uakti, confesso que no começo achei estranho, mas ela foi me conquistando aos poucos para terminar maravilhosamente e com o pequeno ruído de um sino. (Adicionado em 27 de setembro de 2008 - Veja a reação de Saramago aqui).
Em terra de cegos quem tem olho é rei.
O sinal vermelho muda para o verde e só se ouve mais buzinas. Alguém no carro grita que não consegue enxergar, dois homens se aproximam e tentam contornar a situação. O segundo se oferece a levar o cego em casa.
Para o autor José Saramago esse homem representa a humanidade. Porque se existia um código mudo de não se tomar vantagem de um homem deficiente, ele acabou de quebrá-la roubando o cego.
A partir desse homem (Yusuke Iseya) o vírus da cegueira branca se espalha para sua esposa (Yoshino Kimura), o ladrão (Don McKellar – também roteirista do filme), o médico que ele vai se consultar (Mark Ruffalo – magistral e sem retoques), a prostituta (Alice Braga), e o velho com o tapa-olho (Danny Glover), que estavam no consultório. Mais a personagem principal é a esposa do médico (Julianne Moore – SOBERBA), a única que consegue enxergar, mas que, por amor, decide fingir-se cega e seguir o marido na quarentena.
Ensaio sobre a Cegueira é eficiente na adaptação da difícil história do livro homônimo, não à toa o autor resistiu tanto em entregar os direitos. Saramago aprovou o resultado. Meirelles construiu a perfeita alegoria, ou ensaio redundantemente, do que seria uma interpretação do próprio autor de uma obra interpretativa e de duras críticas sociais. Não me recordo de um filme com tamanha análise, não só fundamentada, mas abalizada, e que rendesse uma rica discussão do nosso papel no mundo e o que significa convivermos em sociedade.
Por uma daquelas coincidências do destino, Ensaio sobre a Cegueira foi o primeiro livro que Fernando Meirelles quis adaptar para estrear no cinema. Anos mais tarde, e 4 películas depois, foi convidado pelo produtor canadense Niv Fichman para dirigir exatamente a mesma adaptação. A lição do destino é evidente, apenas Meirelles conseguiria transformar essa obra singular, em um filme único.
VISÃO X AUDIÇÃO
Porém muito dos méritos do filme deve ser partilhado com o editor Daniel Rezende e o diretor de fotografia César Charlone, responsável pelo corte do cineasta das narrações da personagem de Danny Glover. Afinal ele conseguiu exprimir nas cores o que seria dito com a voz. Enquanto que Daniel conseguiu dar movimento e rapidez a uma obra parada e lenta – a cena do estupro coletivo foi acertadamente cortada graças ao talento de Rezende. Gostei também da trilha do Marco Antônio Guimarães, com seu grupo Uakti, confesso que no começo achei estranho, mas ela foi me conquistando aos poucos para terminar maravilhosamente e com o pequeno ruído de um sino. (Adicionado em 27 de setembro de 2008 - Veja a reação de Saramago aqui).
Em terra de cegos quem tem olho é rei.
Comentários
Esse post é definitivo. Fiquei intrigado para conferir a obra.
O interessante é que só o seu blog permite essa brincadeira. Se o Cinema em Casa a fizesse, por exemplo, o texto ficaria oculto no fundo azul. E isso seria bem sem graça. hehe!
Parabéns pelo conteúdo do post e pelo formato.
Abs!
E que bom você ter aprovado o filme (e ainda comentar de forma tão particular a atuação de minha atriz preferida, a Julianne Moore), sua opinião é um grande sinal que o filme deve mesmo ser ótimo. Abraço!
Bem original!
Ainda não entrou em cartaz no cinema daqui, mas estou louco para assistir.
Ramon, valeu, vc é suspeito. Veja o filme!
Vinicius, obrigado tb, e vc é suspeito no caso da Julianne, mas só um louco não "enxergaria" a SOBERBA atuação dela, como disse em Sangue Negro, talvez um Oscar sujasse um pouco essa perfomance.
Ibertson, obrigado tb!
O filme é bom mesmo. Aliás, Meirelles é bom.
Eu parei a leitura no meio. Não gosto de Saramago, mas acho que o argumento dá um belo filme de horror - que é diferente de terror.
Abs!
E o filme foi a adaptação de um livro mais bem feita que já vi. Me envolvi tanto que até chorei. E olha que tinha terminado o livro há menos de um mês! E a fotografia do filme + direção de arte estão extraordinárias!
Profundo e único, como o livro. E como Meirelles.
Eu já vi o filme, mas ainda estou formando minha opinião...
Abs!
Concordo com você quando diz que só Meirelles conseguiria adaptar a obra de Saramago!
Isso sim é fazer cinema. Isso sim é comentar sobre um filme em um blog!
Parabéns!
Denis, em terra de cegos quem tem olho é rei.
beijo beijo