Boogie Nights

Boogie Nights – Paul Thomas Anderson – 1997 (VHS)

Este é o filme pelo qual quero ser lembrado”.

Corta para: Best of My Love do trio feminino de irmãs The Emotions, a grua passeia pelos letreiros luminosos do filme Boogie Nights no Vale de San Fernando, no ano de 1977. Do outro lado da rua um carro se aproxima da boate Hot Traxx, dentro dele o casal Jack Horner (Burt Reynolds) e Amber Waves (Julianne Moore). Eles param na porta e são recepcionados pelo eufórico e simpático Maurice (Luis Guzmán), que os leva até uma mesa. A boate ta cheia e o clima disco dos anos 70 ferve. Acompanhamos o alegre Maurice até a pista onde Reed Rothchild (John C. Reilly), Becky Barnett (Nicole Ari Park) e Buck Swope (Don Cheadle) dançam. Por trás deles passamos a acompanhar um garçom que vai até a mesa do casal Jack Horner e Amber Waves oferecer um aperitivo, o casal faz o pedido das bebidas e o garçom sai, passando e quase esbarrando na Rollergirl (Heather Graham), que tem o estranho hábito de andar de patins, alias é o que ela está fazendo agora, parando na mesa do casal por uns segundos, pois está com pressa, vontade de fazer xixi. Ela então atravessa a pista de dança, sendo interpelada por Reed, a quem avisa onde vai. A Rollergirl continua seu caminho, ainda rebolando ao som da música e entra num corredor, é então que a câmera focaliza o jovem ajudante de garçom Eddie Adams (Mark Wahlberg).

São exatos 3 minutos e 45 segundos de imagens ininterruptas, numa cena sem cortes e efeitos, onde todas as principais personagens da história são apresentadas. G E N I A L!
Baseado em várias histórias reais do surgimento da industria pornô norte-americana na década de 70, seu auge, o surgimento do vídeo, e a decadência. O filme é uma continuação do curta-metragem The Dirk Diggler Story (1988), dirigido pelo próprio Anderson.

Corta Para: Do Your Thing de Charles Wright & The Watts 103rd Street Rythm Band. A steadycam focaliza o cartaz “Adeus anos 70…Alô anos 80!”, na porta da casa de Jack Horner. Entra em cena, pego por trás com seu inconfundível mullet, Little Bill (William H. Macy), ele entra na casa, opa, cuidado com o chifre. Sacanagem. Ele ajeita o cabelo, parece procurar algo. Reed Rothchild e seu novo amigo Todd Parker (Thomas Jane) passam eufóricos para a contagem regressiva da década que se aproxima. Continuamos com a steadycam atrás de Little Bill. O pessoal começa a se juntar na sala para a contagem. Buck oferece uma taça de champagne. Entramos na cozinha, Bill pergunta ao operador de câmera e editor Kurt (Ricky Jay), se ele viu a esposa dele, ao que Kurt responde negativamente. A steadycam para na entrada da cozinha e Bill sai de cena. Ele volta parece conformado com o sumiço da esposa. Algo então chama sua atenção. Dois passos para trás da steadycam. Dois passos para frente de Little Bill e uma porta de um quarto revela-se. Bill a abre e os gemidos se intensificam. Desolado, ele volta a fechar a porta. Voltamos para trás. Rollergirl tira uma foto Polaroid de um perplexo Little Bill. Continuamos saindo da casa até o estacionamento entupido de carros. Cuidadosamente Bill coloca a taça de champagne em cima do seu carro. Abre o carro e entra. Pega algo no porta-luvas e sai. Fecha o carro. Agora vemos um revólver. Ele ainda ta carregando-o e voltando para casa. Gritos começam a ser ouvidos, é a nova década se aproximando. Bill faz novamente todo o trajeto até o quarto onde os gemidos ecoavam. Abre a porta e aponta a arma. 3 tiros ecoam na casa.

São exatos 2 minutos e 87 segundos de imagens ininterruptas, numa cena sem cortes e efeitos. Genial!

A maravilhosa trilha sonora conta com músicas da época da discoteca e o mais puro rock’n roll dos anos 70, divididos em dois CD’s. Tem também os famosos sinos, que Anderson usa como fundo para a parte do filme onde tudo desmorona, e que já fora utilizado em Jogada de Risco (1996).

Eddie Adams / Dirk Diggler (Mark Wahlberg) foi baseado no ator pornô John Holmes, que também é retratado em Wonderland (2003), num episódio real que manchou sua carreira, e que Anderson mudou na sensacional cena da casa de Rahad Jackson (Alfred Molina). Holmes foi sensação no pornô por seu enorme talento (leia membro), e morreu de AIDS em 1988.

A personagem de Amber Waves (Julianne Moore) é baseada na atriz e diretora pornô Veronica Hart e seu problema com a custódia do filho, a atriz faz uma ponta no filme interpretando a juíza na cena em que Amber e o marido discutem.

Jessie St. Vincent (Melora Walters) tem o visual da lendária atriz pornô Seka, sensação dos anos 70, é também baseada na sua homônima atriz pornô e na produtora e diretora Julia St. Vincent, que dirigiu um documentário sobre John Holmes, Exhausted: John C. Holmes, the Real Story (1981), que serviu de base para Boogie Nights e Wonderland (2003).
A esposa ninfomaniaca de Little Bill é interpretada pela atriz pornô Nina Hartley, que é uma remanescente dessa época e que até hoje ainda atua em filmes de adulto.

Comentários

Romeika disse…
Esse filme tem praticamente um elenco ensemble, o que prova o talento do diretor em contar histórias com vários personagens, e cada personagem é tão único e difícil de se esquecer, por exemplo: a patinadora, a ninfomaníaca, e a da Julianne Moore - que deveria ter vencido o Oscar por esse papel.
Kamila disse…
Concordo com a Romeika. Julianne Moore deveria ter vencido o Oscar por esse papel. Ela é uma atriz fantástica.

"Boogie Nights" é o meu filme favorito do PT Anderson por várias razões: a história é muito bem contada, apesar de dividida em vários núcleos, e os personagens são bem marcantes.
Museu do Cinema disse…
E o talento dele vai além disso Romeika, pois ele tb conta histórias com poucos personagens de maneira belissima, vide Jogada de Risco, Embriagado de Amor e o novo There Will Be Blood.

Kamila, dizer que a Julianne Moore merecia o Oscar é redundante, ela é uma atriz que por qualquer papel mereceria, eu por exemplo acho que ela deveria ter ganho por Fim de Caso, mas acho q nem foi indicada né?
Kamila disse…
Cassiano, por "O Fim de Caso" (um filme que eu adoro), ela foi indicada também ao Oscar.
Museu do Cinema disse…
Mas perdeu né Kamila. Eu acho a interpretação dela nesse filme uma coisa absolutamente genial. Ela tá ótima em Boogie Nights, bastante a vontade num papel onde a maioria das atrizes não estariam, mas ainda acho a interpretação dela em Fim de Caso insuperavel.
Alex Gonçalves disse…
Cassiano, que coincidência!
Estou com o filme em casa para assistir ainda hoje, depois que eu terminar com as minhas pendências virtuais.
Se houver tempo, passo aqui depois para comentar o que achei a respeito do filme.
Anônimo disse…
Grande filme, pena que foi um pouco subestimado na época. Acho que a partir daí o Paul Thomas Anderson começou a mostrar que era o melhor diretor de sua geração, já alcançando a perfeição em seu segundo filme. Destaque para a Julianne Moore, minha atriz preferida ;-)

Grande texto!
Museu do Cinema disse…
Alex, esperarei seu comentário então.

Vinícius, obrigado, tb adoro a Moore, uma atriz talentosissima, tens bom gosto.
Ramon disse…
Fenomenal o filme.
A cena inicial é mesmo demais!

Não sabia que os dois filmes eram a respeito de John Holmes. Se bem que Wonderland não me pareceu um filme original. Talvez seja devido ao Boogie.

Todos atores estão fantásticos no filme. As trilhas são ótimas, mesmo!
Museu do Cinema disse…
Sim Ramon, Wonderland é mais real, pois conta a história como aconteceu, já Anderson preferiu "poetisar" em cima, e acrescentar outras histórias verídicas paralelas.
Unknown disse…
É isso aí, falou tudo e falou bonito. Marky Mark arrebenta! E a Rollergirl está sensacional também. É um dos meus filmes preferidos, com aquele desfecho incrível!

Abs!
Kamila disse…
Cassiano, mas era difícil da Julianne vencer o Oscar naquele ano, porque a Hilary Swank ("Meninos Não Choram") era mesmo um rolo compressor naquele ano.

Eu, particularmente, acho que ela deveria ter ganho, em 2003, por "As Horas" (em melhor atriz coadjuvante), já que era praticamente impossível ela vencer a Nicole Kidman, sua companheira de filme.

Mas, acho que ela tem boas chances de conquistar a estatueta dourada em 2009, por "Blindness".
Otavio Almeida disse…
:-(

Não sei o que dizer... Gosto da abertura, claro. Sorry...

Abs!
Museu do Cinema disse…
Valeu Dudu!

Kamila, 2009??? Bom, eu discordo da Hilary, o papel dela tinha aquela coisa que os votantes do Oscar adoram, da mulher se "enfeiar", mas atuação por atuação a da Moore é um pouco melhor.

Otávio, o grande Nelson Rodrigues disse certa vez que a unanimidade era burra, portanto vc tá aqui para provar que PTA é mesmo gênio!
Kamila disse…
Sim, Cassiano, sei que estamos longe de 2009, mas acredito mesmo que, na adaptação do livro "Ensaio Sobre a Cegueira", do diretor Fernnando Meirelles, a Julianne vai ter outra grande chance de vencer o Oscar - afinal, interpreta a mulher do médico, um personagem que é muito rico do ponto de vista dramático.