O Rei do Rio

O Rei do Rio – Fábio Barreto – 1985 (DVD)

O jogo do bicho é baseado na honestidade”.

Adaptação da peça O Rei de Ramos, escrita pelo genial baiano Dias Gomes, que havia adaptado da novela Bandeira Dois, esse é um dos grandes filmes nacionais, ao lado de Cidade de Deus (2002), Central do Brasil (1998) e Faca de Dois Gumes (1989). Uma produção da família monopolista Barreto, o filme acabou caindo no colo do caçula Fábio, então com 28 anos, depois que o irmão Bruno, já famoso, resolveu ir para os Estados Unidos. Alias, a direção é o ponto alto do filme. Em duas ou três cenas, Fábio demonstra uma habilidade de impressionar.

Inspirado em O Poderoso Chefão (1972) e Era uma Vez na América (1984), confessado nos comentários do diretor no dvd, completamente desconfortado, discursando. Com roteiro do chileno Jorge Duran e José Jofilly Filho e também do Fábio Barreto, O Rei do Rio mostra a amizade entre dois apontadores do bicho, Tucão (Nuno Leal Maia) e Nico Sabonete (Nelson Xavier), que trabalham para o banqueiro do jogo do bicho Mestre Cacareco (Milton Gonçalves – em interpretação notável), inspirado no bicheiro Mestre Natal, da Portela. Os jovens amigos, depois de ganharem uma pequena fortuna no jogo, tentam comprar um ponto de banca de Cacareco, que se nega a vendê-la, mas com o apoio do Delegado Paixão (Tonico Pereira) e do Deputado Farias (Flávio São Thiago), Tucão resolve ser o novo Rei do Rio.

O filme serve também como documento histórico da nossa política (corrupção) e da violência do tráfico de drogas do Rio de Janeiro, ao traçar a resistência dos bicheiros em investir no negócio das drogas, mesmo com o incentivo da polícia e do deputado, "pois a droga faz a pessoa perder as esperanças, enquanto o jogo é a esperança", nas palavras do diretor. A trilha sonora, de Sérgio Sarraceni pontua a película do inicio ao fim, se tivesse tido mais recursos de orquestração estaria no rol das melhores trilhas de cinema. O filme tá disponível nas locadoras, mas se quiser comprar, vale a pena, faça-o clicando aqui.

Tucão? Tô telefonando para participar da inauguração da minha fortaleza...E gostaria de dizer que, em homenagem à senhora sua mãe, ela vai se chamar buraco da Marcelina”.
Candomblé, jogo do bicho, carnaval, amizade, traição, Shakespeare, tudo se mistura nesse clássico da nossa cultura. O Yin e Yang da cena da praia onde Tucão todo de branco se encontra ao todo de preto Nico, que bebe um copo de leite é fotografada magistralmente. A grandiosidade da cena no barracão da escola de samba, homenageada recentemente na telessérie Filhos do Carnaval (2006), é das mais perfeitas, com a câmera se estendendo e vindo em slow motion para as personagens. Uma homenagem ao Rio, uma cidade de beleza ímpar, que chegou num ponto de crise social insustentável. Antigamente, quando nossos bandidos eram os “Castores de Andrade” do jogo do bicho, éramos felizes e não sabíamos.

Te agradeço Sabonete. Eu só sinto não poder retribuir, porque tu nunca teve mãe. Foi achado no lixo”.

Comentários

Kamila disse…
A gente já falou sobre isso quando você fez um post sobre "Mandrake". "Filhos do Carnaval" teve uma baita primeira temporada. E espero que eles façam uma segunda temporada.

Não assisti "Rei do Rio", mas o que acho engraçado é que, apesar do filme ser de 1985, a história continua atual. O RJ continua lindo e o mesmo de sempre.
Museu do Cinema disse…
Sim Kamila, tb acho Filhos do Carnaval excelente, mas acho dificil continuar agora sem o Jece Valadão, vamos ver...

O filme é um aviso do que vemos hoje no Rio.
Otavio Almeida disse…
Cara, eu tenho que admitir que não sou fã de cinema nacional. Não mesmo. Gosto de CENTRAL DO BRASIL, CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS, O CÉU DE SUELY, e CIDADE DE DEUS. E só! Adorei a série FILHOS DO CARNAVAL. Mas não consigo gostar de outras produções. E vejo o que sai... mas não gosto.

Quero ver O CHEIRO DO RALO, mas o filme teve um lançamento ridículo aqui em SP. Pouquíssimas salas e bem longe do meu trabalho (ou de casa).

E o Rio é lindo lá de cima... como na abertura da novela das oito (Não! Não vejo novela. Mas lá em casa, ligam na Globo!). Sempre foi um caos essa violência. Não é de agora...

Abs! E parabéns pelo post!
Museu do Cinema disse…
Obrigado Otávio, eu tb não sou fã do nosso cinema, estamos muito longe dos três países que considero nomes importantes na história do cinema: EUA, Itália e França.

Como disse no post são poucos os filmes que se salvam, tem alguns outros mais antigos como O Pagador de Promessas e Deus e o Diabo da terra do Sol (que é um capitulo a parte devido ao periodo que foi feito).

Tb quero muito ver o Cheiro do Ralo, a maneira toda como o filme foi feito me encantou. Mas ele ainda não chegou por aqui.
Marcus Vinícius disse…
Também não sou fã do cine nacional, apesar dos ótimos filmes já citados. Quero ver "O ano em que meus pais sairam de férias". Até acho que estamos melhorando, "Cinema, aspirinas e urubus" é um puta filme, mas é só comparar os nossos lançamentos com os recentes filmes argentinos pra ver a diferença, por exemplo.

Shii, será que os moranguinho não vão passar nem da primeira fase? Que peninha, hohoho! Abs!
Túlio Moreira disse…
O Poderoso Chefão e Era uma Vez na América em terras tupiniquins! Cara, não vi esse filme ainda. Me interesso por cinema brasileiro mais do que gosto, propriamente falando. O Otavio fez uma listinha ótima, concordo plenamente. E gosto do cinema do Fábio mais do que o do Bruno (bomba nova à vista!). Tem um cult dos cults brasileiro que sou doido pra assistir. Chama-se Hitler IIIº Mundo, do José Agripino de Paula (IMDb: http://www.imdb.com/name/nm1151866/). Esse é meu grande sonho de consumo, rs.

abs!
Museu do Cinema disse…
Marcus, moranguinho é ótimo, mas queria pegar esses vermelhos na final, mas tá feio para nós e muito pior para eles.

Túlio, vou dar uma conferida nesse filme, o título já é interessante!
Kamila disse…
Cassiano, após a morte do Jece Valadão também fiquei pensando como ficaria "Filhos do Carnaval". Mas, acho que vai ser interessante retomar a série do ponto dos filhos disputando para ver quem tomará conta dos negócios da família.
Museu do Cinema disse…
Eu confesso que não peguei os capitulos finais, mas a morte do Valadão era inesperada, mas lembremos de Sopranos e a morte de Nancy Marchand, e como eles conseguiram desenvolver tudo de forma perfeita. Tomara Kamila!
Anônimo disse…
A associação dos personagens de Tonico Pereira, Nuno Leal, Nelson e Flávio São Tiago mostra que todo contexto de corrupção e marginal na cidade do Rio de Janeiro, já existe há muito. O filme vale mais como um documento, que propriamente como uma obra objetiva, já que sua seqüência vai do hilário ao absurdo, como na cena em que Tucão em mais uma de suas visões de Mestre Cacareco, vê o antigo patrão sob uma forte chuva. Até aí nada demais se Mestre Cacareco, uma miragem, uma visão pessoal de Tucão, não molha-se como qualquer mortal.