O Céu que nos Protege

The Sheltering Sky – Bernardo Bertolucci – 1990 (DVD)

Turistas são aqueles que chegam num lugar já com a data definida da volta, enquanto que viajantes são aqueles que não sabem quando e se voltam”.

Baseado no romance homônimo de Paul Bowles, que no longa aparece como observador/narrador, o filme conta a história de Port (John Malkovich) e Kit Moresby (Debra Winger) um casal de artista norte-americanos que busca, no deserto do Saara, reaproximar a relação. Em companhia do amigo Mr. Tunner (Campbell Scott) que se escala para acompanha-los, eles passam por situações inimagináveis numa terra sem saneamento, água e com dificuldade de comunicação, problemas como traição, companheirismo e cumplicidade se tornam real para o casal durante a viagem por inóspitas cidades da África.

O cinema poético do diretor italiano nos reserva interessantes surpresas no final, aliás, em sua filmografia podemos, desde já, destacar essa característica, ele sempre usa a história como elemento central para algo maior. Reparem também na pequena participação de Nicoletta Braschi, a atriz de A Vida é Bela (1997) e esposa de Roberto Benigni, como uma francesa que sorri para Mr. Tunner. Destaque também para a bela trilha sonora do japonês Ryuichi Sakamoto, em especial a canção final, estupenda! Outro ponto alto do filme é a fotografia do romano Vittorio Storaro, constante colaborador de Bertolucci e responsável pelo primoroso trabalho de Dick Tracy (1990).

Porém, o dono da película é John Malkovich, que, com raríssimas exceções, é daqueles atores que emprestam uma veracidade emocional e uma elegância ao personagem que interpreta, que não se vê atualmente. O filme se alicerça muito nessa característica do ator. As belas paisagens e os planos abertos lembram muito Michelangelo Antonioni, principalmente em Profissão: Repórter (1975). Bertolucci assume sua característica de explorar os relacionamentos de maneira franca e aberta, sem falsos moralismos ou pudores desnecessários. No final só temos a certeza de uma coisa, goste ou não do filme, somos viajantes do universo bertolucciano.

Por não sabermos quando morremos achamos que a vida é inacabável. Mas algumas coisas acontecem de vez em quando. Poucas, aliás. Quantas vezes vai se lembrar de uma certa tarde na infância, uma tarde que faz parte de você tanto que não imagina sua vida sem ela. Mais 4 ou 5 vezes. Talvez nem isso. Mais quantas vezes vai ver a lua cheia? Umas vinte, talvez. Ainda assim, tudo parece limitado”. Paul Bowles.

Comentários

Kamila disse…
Cassiano, parabéns por mais essa retrospectiva. Só não participo mais com comentários, pois não conheço muito a obra de Bertolucci. Vi seus filmes mais recentes, como “Beleza Roubada” e “Os Sonhadores”.
Museu do Cinema disse…
Dois belos filmes. Em breve.